V- Boletim: A ação empreendedora sob uma perspectiva bibliométrica

O artigo desenvolvido por Ávila et al. (2021) buscou identificar quais as principais estruturas conceituais estão sendo desenvolvidas acerca da ação empreendedora em âmbito internacional. Segundo os autores essa investigação mostra-se pertinente uma vez que há a literatura científica acerca do tema tem cada vez mais questionado a perspectiva individual do empreendedorismo, deslocando o foco de sua análise para a ação.

Para realização da pesquisa os autores recorreram ao método científico denominado bibliometria, técnica quantitativa que permite identificar, quantificar e descrever um campo de pesquisa. Diante disso, em meados de junho de 2021, os autores realizaram uma busca avançada de documentos na base de dados Web of Science que contivessem no título os seguintes termos: “entrepreneur* action” OR “action theory of entrepreneur”. Mediante a busca realizada, encontrou-se 71 documentos, sendo estes 68 artigos e 3 revisões que continham no título o termo “ação empreendedora” ou “teoria da ação empreendedora”. As referências foram organizadas através do EndNote Web. Já os dados foram analisados a partir das planilhas eletrônicas e gráficos sistematizados no Microsoft Excel e as redes e figuras geradas pelo VOSviewer, a partir dos downloads dos metadados disponíveis na Web of Science.

Os resultados acerca da tendência temporal da produção científica internacional revelaram que o campo começou a ser difundido no início dos anos 2000, atingindo um ápice de publicações entre os anos de 2018 a 2020, o que revela que os estudos sobre a ação empreendedora são recentes e ainda pouco explorados na literatura científica internacional, tendo uma taxa anual de crescimento de aproximadamente 12,69%. A pesquisa ainda revelou que dentre os 134 autores que têm se dedicado à temática da ação empreendedora, evidenciou-se que alguns são mais citados devido ao desenvolvimento de trabalhos seminais na área, sendo estes correspondentes a análise anterior, como os trabalhos de McMullen e Shepherd (2006) e Alvarez e Barney (2007).

Além disso, a fim de contribuir para a extensão do conhecimento da ação empreendedora e minimizar os efeitos causados pela falta de uma estrutura conceitual bem definida para o campo, foi proposta uma matriz de síntese a partir dos resultados encontrados na pesquisa. A matriz sustenta que a ação é um meio necessário para que o empreendedorismo realmente aconteça na prática, que a função de empreender não está somente e necessariamente atrelada à uma perspectiva individual podendo ser compreendida a partir de uma lógica coletiva. Do mesmo modo, pode emergir em diferentes âmbitos, empreendimentos e contextos, transcendendo a geração de ganhos econômicos e empresariais, impactando positivamente o contexto ambiental, ajudando na resolução de demandas públicas.

Assim, por meio de uma oportunidade a ser criada, explorada ou descoberta, os indivíduos realizam “intercâmbios inovativos e aventureiros” com suas redes de relacionamento, incluindo a sociedade em prol da geração de benefícios coletivos, sendo um processo decorrente de uma ação empreendedora.

O estudo ainda propôs como estudos futuros que sejam realizadas investigações acerca da ação empreendedora como o epicentro do empreendedorismo, visto que, é a partir de uma ação direcionada por um ou vários indivíduos que a prática do empreendedorismo acontece de fato. Além disso, propôs o desenvolvimento de estudos quantitativos, a fim de construírem escalas de mensuração para a ação empreendedora a serem validadas nos diferentes contextos em que essa possa emergir.

Referências: 

ÁVILA, M. A. et al. A AÇÃO EMPREENDEDORA SOB UMA PERSPECTIVA BIBLIOMÉTRICA. In: ANAIS DO XXIV SEMEAD, 2021, Evento online. Anais… Evento online: SEMEAD, 2021. p. 1-16.

IV- Boletim – EMPREENDEDORISMO SOB ANÁLISE: possibilidades ontológicas e teóricas

Ao longo dos tempos, estudar o empreendedorismo, assim como, procurar investigar como este se comporta vem se tornando cada vez mais relevante e necessário, pela disparidade de como este tema se comporta. Os estudos que emergem a partir do empreendedorismo são heterogêneos, estes transcendem de diversas disciplinas e níveis de análise (BERGLUND, 2005). 

O empreendedorismo faz parte de uma série de ações e intervenções no contexto econômico e social, passa a ser objeto de problematização e pesquisas a partir de sua necessidade, de suas implicações e de suas características (BORGES; BRITO; LIMA, 2017). Tais fatores, trazem a fragmentação do meio, bem como, o desenvolvimento de abordagens mais simples e com potencial explicativo um tanto quanto baixo (NASCIMENTO; ANDRADE, 2021).

Frente a tal abordagem, foi desenvolvido uma pesquisa, a fim de, investigar de maneira ontológica o estudo do empreendedorismo, a qual, possibilitou a identificação dos principais entendimentos no tocante a esse tema, juntamente com os pressupostos filosóficos que dão norte as pesquisas e teorias utilizadas para fomentar percepções que vem de encontro ao empreendedorismo. Tal investigação se faz relevante, pois possibilita a verificação da natureza do pensamento empreendedor, além de gerar um panorama do campo, de tal forma, que os pressupostos filosóficos principais possam ser percebidos e investigados (NASCIMENTO; ANDRADE, 2021).

Para que essa investigação se tornasse possível, foi realizada revisão integrativa, com o intuito de investigar as principais ontologias seguidas, no tocante aos estudos a respeito do empreendedorismo nos últimos quarenta e cinco anos, bem como, essas teorias foram utilizadas nas pesquisas ao longo do tempo.  Posto isto, o estudo aqui apresentado aponta as principais ontologias seguidas nas pesquisas a respeito do empreendedorismo, além dos métodos de pesquisas. Para tanto foi realizada uma revisão integrativa da literatura, a qual apontou as principais ontologias usadas nos estudos do empreendedorismo(NASCIMENTO; ANDRADE, 2021). Diante do exposto, foi possível constatar que cinco categorias surgiram, explanadas no quadro 1 abaixo:

Quadro 1 -Principais ontologias encontradas

PRINCIPAIS ONTOLOGIAS ENCONTRADAS 

Ontologia realista

Engloba estudos que utilizam uma abordagem objetiva para compreensão do empreendedorismo, com foco nas estruturas.

Ontologia idealista

Os estudos defendem a aplicação de uma abordagem subjetiva para compreensão do empreendedorismo, com foco na agência e nas interações sociais decorrentes da mesma.

Ontologia realista crítica

Abarca os estudos que defendem a compreensão da realidade a partir de estruturas distintas (natural e social), as quais possuem poderes causais interligados.

Ontologia intersubjetiva 

Encontram-se os trabalhos que buscam uma estabilidade entre questões objetivas (estrutura) e questões subjetivas (agência), não direcionando sua análise a um tópico em especial.

Ontologias alternativas.

Encontram-se os trabalhos que buscam trazer uma nova perspectiva ontológica para os estudos empreendedores, por meio da inclusão de novos elementos analíticos.

Fonte: Adaptado de Nascimento e Andrade, (2021)

De posse desses agrupamentos, foi possível perceber que os pesquisadores procuram um novo caminho em direção a pesquisa do empreendedorismo, considerando cada vez mais questões tanto objetivas quanto subjetivas (NASCIMENTO; ANDRADE, 2021)

Referências: 

BERGLUND, H. Toward a Theory of Entrepreneurial Action Exploring Risk, Opportunity and Self in Technology Entrepreneurship. 2005. Tese (Doutorado em Filosofia) – University Of Virginia, Charlottesville, 2005.

BORGES, Alex Fernando; LIMA, J. B.; BRITO, M. J. Fundamentos da Pesquisa em Empreendedorismo: aspectos conceituais, teóricos, ontológicos e epistemológicos. Encontro Nacional da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, 2017.

NASCIMENTO, Priscilla Oliveira; ANDRADE, Daniela Meirelles. Empreendedorismo sob análise: possibilidades ontológicas e teóricas. Xlv Encontro da Anpad – Enanpad 2021, [s. l], v. 1, n. 1, p. 1-17, out. 2021.

III Boletim – AÇÕES EMPREENDEDORAS NO SETOR PÚBLICO: o desenvolvimento de uma escala

Mais de dois séculos separam os cervejeiros mencionados por Adam Smith (1976), em sua obra clássica, dos empreendedores de hoje. Os primeiros viviam em um ambiente socioeconômico caracterizado por uma relativa estabilidade. Eram detentores de ofícios cujas tradições passavam de geração para geração. Os empreendedores atuais, por sua vez, situam-se em um mundo completamente diferente, caracterizado por rápidas transformações e grande competição e são vistos como personagens multifacetados. O conceito de empreendedor é, atualmente, utilizado para designar diferentes facetas de um personagem (Gartner, 1988), tais como alguém dotado de capacidade de inovação; de espírito de iniciativa; que assume riscos em um negócio; que decide sobre o uso e a coordenação de recursos escassos, etc (VALE, 2014).

Ação empreendedora é o ato de transformar a realidade existente em novos mercados, realizando trocas aventureiras, criativas ou inovadoras entre o empreendedor e seu ecossistema de inovação ao longo do tempo (MANIÇOBA, 2019).A ação empreendedora no setor público depreende-se do impulso do intraempreendedor, empreendedor corporativo ou empreendedor institucional no esforço de agir com conseqüências políticas, econômicas e culturais. Boava e Macedo (2009) consideram essas ações como promotoras de hiatos no sentido do que é seguro e estável e, para o caso do setor público, o próprio ambiente das instituições públicas é palco de estabilidade e segurança. Os autores coadunam-se com Lecca e Naccache (2006) ao afirmarem que tais modificações praticamente não se alcançam por meio de iniciativas individuais, mas em um esforço conjunto cuja mobilização venha desencadear alianças e mecanismos de cooperação para a transformação. (SOUSA, 2010)

Assim sendo, os aspectos positivos econômicos e sociais gerados pelos empreendimentos no setor público acarretam em satisfação por parte dos empreendedores e proporcionam valores individuais, sociais e organizacionais importantes para sociedade como um todo. As novidades e criações voltadas para o atendimento do bem-estar social faz-se necessária, isto é, a incorporação do empreendedorismo na gestão pública infere que cabe aos governos reverem seus papéis no que envolve o compromisso da garantia de serviços públicos eficientes e efetivos. Temos como exemplo de Ação Empreendedora no Setor Público, O Programa de Crédito Solidário (PCS) desenvolvido em um município no Sul de Minas Gerais. 

O estudo “Ações Empreendedoras na Gestão Pública: análise do programa de crédito solidário (PCS) em um município do Sul em Minas Gerais”, de Silva, Andrade e Valadares (2016, p.64), evidencia que:

O programa pode ser considerado tanto uma política afirmativa quanto uma política emancipatória, por conceder aos empreendedores que estavam afastados do mercado de trabalho a chance de abrirem seus próprios negócios e a inserção ativa desses indivíduos na economia. É também uma ação empreendedora por se tratar de um programa novo que possui resultados constatados, o que pode ser observado por meio da abertura de novos empreendimentos e do funcionamento da feira dos membros da ALAC. O crédito também foi analisado através do nível de emancipação que foi gerado na vida de seus beneficiários. Desta forma, pode-se verificar que nos níveis econômico, social e político, o programa trouxe para os seus beneficiários aspectos predominantemente positivos. Para muitos membros da ALAC, o crédito proporcionou uma melhoria na qualidade de suas vidas, pois com o dinheiro foi possível investir em seus trabalhos que são vendidos na feira e a maior parte destas pessoas tem esse serviço como única fonte de renda. 

Nota-se uma crescente tendência de pesquisas no campo de públicas, visando compreender o papel da ação empreendedora no contexto das organizações públicas, visto que a mesma desenvolve um significativo trabalho no que tange ao desenvolvimento da coletividade da qualidade de vida, da inovação, gerando assim mudanças sociais e econômicas de um determinado grupo social. A ação empreendedora no setor público oferece a oportunidade de reexaminar o papel do governo no que diz respeito à sua responsabilidade de garantir o acesso aos serviços. 

Referências

MANIÇOBA, R. F. Ação empreendedora: Evolução, Lacunas e Tendências. In: SEMINÁRIOS DE ADMINISTRAÇÃO, novembro., 2019. Disponível em: <https://login.semead.com.br/22semead/anais/arquivos/2528.pdf>. Acesso em: 13 abr. 22

SOUSA, J. L. et al. O Empreendedorismo no Setor Público: A Ação Empreendedora da Fundação Joaquim Nabuco. In: ENCONTRO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GOVERNANÇA, 30., 2010,Vitória/ES. Disponível em : <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enapg415.pdf>. Acesso em: 13 abr. 22.

VALE, G. M. V. Empreendedor: Origens, Concepções Teóricas, Dispersão e Integração. Revista de Administração Contemporânea, 2014. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1982-7849rac20141244>. Acesso em: 13 abr. 22.

II Boletim – QUEM ENGATINHA APRENDE A ANDAR: a história do curso empreendedorismo na escola

Atualmente, percebe-se que as necessidades do mercado de trabalho vêm se modificando ao longo dos anos, e a educação também é parte dessa mudança que ocorre na sociedade, adotando estratégias de ensino que busca tornar o aluno como sujeito ativo no processo de ensino-aprendizagem. Diante disso, a educação empreendedora consiste em uma proposta de ensino, que aborda práticas que contribuem para o estímulo de habilidades que possam ser utilizadas em diferentes situações, e interferir no progresso dos países (LIMA et al., 2015). A formação voltada à promoção de características empreendedoras favorece esses indivíduos por meio da capacitação, inovação e do desafio de superar os próprios limites (GUERRA; GRAZZIOTIN, 2010; LIMA et al., 2014).

Diante de tais fatos foi pensado o curso de extensão de longa duração “Empreendedorismo na Escola”, com o propósito de ministrar um curso para alunos das escolas públicas do município de Lavras sobre a temática do empreendedorismo e estimulá-los na construção de atitudes empreendedoras e de novas perspectivas sobre empregabilidade. Dessa maneira, utilizou-se das metodologias ativas de aprendizagem com o propósito de tornar os alunos protagonistas do processo de ensino-aprendizagem.

Assim, propõe-se compreender a trajetória do Curso Empreendedorismo na Escola ao longo dos anos. Para isso, a metodologia escolhida foi de natureza qualitativa, por meio da aproximação entre o ambiente e o pesquisador, caracterizando-se como um estudo de caso quanto aos seus procedimentos. Foram analisadas questões como a temporalidade da execução (duração) e os materiais utilizados; atividades realizadas em sala de aula com os alunos; reuniões gerais da equipe do curso; eventos de fechamento interno e externo com os alunos e o sistema avaliativo.

Nos resultados, pode-se observar a transformação do curso desde o ano de sua criação (2015), enquanto curso de curta duração, até o ano de sua reestruturação (2018), no qual passou a ter longa duração e explorar os tipos de empreendedorismo: o privado, social, público e o intraempreendedorismo.

Nesse processo, os professores passaram a desempenhar o papel de facilitadores do ensino e não detentores do conhecimento. Ademais, verificou-se a evolução do curso entre os anos de 2018 e 2019, principalmente com a realização da feira de empreendedores mirins, o êxito quanto aos materiais didáticos confeccionados, além de estimular o comportamento empreendedor nos estudantes. 

Sendo assim, o empenho da professora coordenadora do curso, dos discentes integrantes do projeto, da coordenação da escola e o envolvimento do corpo docente com o projeto tornou possível a promoção da prática do empreendedorismo na escola, caracterizando-a como uma ação empreendedora.

Referências: 

ANDRADE, Daniela Meirelles; ASSIS, Camila; RIBEIRO, Gabrielly Fernandes; TOLEDO Ana Clara Andrade; SILVA, Sara Aparecida Marques. Quem engatinha aprende a Andar: A História do curso Empreendedorismo Na Escola. VIII Encontro Brasileiro de Administração Pública, Brasília/DF. Sociedade Brasileira de Administração Pública (SBAP), 2021. 

GUERRA, M. J.; GRAZZIOTIN, Z. J. Educação empreendedora nas universidades brasileiras. In: LOPES, R. M. A. (Org.). Educação empreendedora: conceitos, modelos e práticas. Rio de Janeiro: Elsevier: São Paulo: SEBRAE, 2010. 

LIMA, E.; HASHIMOTO, M.; MELHADO, J.; ROCHA, R. Brasil: em busca de uma educação superior em empreendedorismo de qualidade. In: In: GIMENEZ, F. A. P. et. al. (org.) Educação para o empreendedorismo. Curitiba: Agência de Inovação da UFPR, 2014.

LIMA, E.; LOPES, R. M. A.; NASSIF, V. M. J.; SILVA, D. Oportunities to improve entrepreneurship education: contributions considering Brazilian Challenges. Journal of Small Business Management, v.53, n.4, p. 1033–105, 2015.