III Boletim – AÇÕES EMPREENDEDORAS NO SETOR PÚBLICO: o desenvolvimento de uma escala

Mais de dois séculos separam os cervejeiros mencionados por Adam Smith (1976), em sua obra clássica, dos empreendedores de hoje. Os primeiros viviam em um ambiente socioeconômico caracterizado por uma relativa estabilidade. Eram detentores de ofícios cujas tradições passavam de geração para geração. Os empreendedores atuais, por sua vez, situam-se em um mundo completamente diferente, caracterizado por rápidas transformações e grande competição e são vistos como personagens multifacetados. O conceito de empreendedor é, atualmente, utilizado para designar diferentes facetas de um personagem (Gartner, 1988), tais como alguém dotado de capacidade de inovação; de espírito de iniciativa; que assume riscos em um negócio; que decide sobre o uso e a coordenação de recursos escassos, etc (VALE, 2014).

Ação empreendedora é o ato de transformar a realidade existente em novos mercados, realizando trocas aventureiras, criativas ou inovadoras entre o empreendedor e seu ecossistema de inovação ao longo do tempo (MANIÇOBA, 2019).A ação empreendedora no setor público depreende-se do impulso do intraempreendedor, empreendedor corporativo ou empreendedor institucional no esforço de agir com conseqüências políticas, econômicas e culturais. Boava e Macedo (2009) consideram essas ações como promotoras de hiatos no sentido do que é seguro e estável e, para o caso do setor público, o próprio ambiente das instituições públicas é palco de estabilidade e segurança. Os autores coadunam-se com Lecca e Naccache (2006) ao afirmarem que tais modificações praticamente não se alcançam por meio de iniciativas individuais, mas em um esforço conjunto cuja mobilização venha desencadear alianças e mecanismos de cooperação para a transformação. (SOUSA, 2010)

Assim sendo, os aspectos positivos econômicos e sociais gerados pelos empreendimentos no setor público acarretam em satisfação por parte dos empreendedores e proporcionam valores individuais, sociais e organizacionais importantes para sociedade como um todo. As novidades e criações voltadas para o atendimento do bem-estar social faz-se necessária, isto é, a incorporação do empreendedorismo na gestão pública infere que cabe aos governos reverem seus papéis no que envolve o compromisso da garantia de serviços públicos eficientes e efetivos. Temos como exemplo de Ação Empreendedora no Setor Público, O Programa de Crédito Solidário (PCS) desenvolvido em um município no Sul de Minas Gerais. 

O estudo “Ações Empreendedoras na Gestão Pública: análise do programa de crédito solidário (PCS) em um município do Sul em Minas Gerais”, de Silva, Andrade e Valadares (2016, p.64), evidencia que:

O programa pode ser considerado tanto uma política afirmativa quanto uma política emancipatória, por conceder aos empreendedores que estavam afastados do mercado de trabalho a chance de abrirem seus próprios negócios e a inserção ativa desses indivíduos na economia. É também uma ação empreendedora por se tratar de um programa novo que possui resultados constatados, o que pode ser observado por meio da abertura de novos empreendimentos e do funcionamento da feira dos membros da ALAC. O crédito também foi analisado através do nível de emancipação que foi gerado na vida de seus beneficiários. Desta forma, pode-se verificar que nos níveis econômico, social e político, o programa trouxe para os seus beneficiários aspectos predominantemente positivos. Para muitos membros da ALAC, o crédito proporcionou uma melhoria na qualidade de suas vidas, pois com o dinheiro foi possível investir em seus trabalhos que são vendidos na feira e a maior parte destas pessoas tem esse serviço como única fonte de renda. 

Nota-se uma crescente tendência de pesquisas no campo de públicas, visando compreender o papel da ação empreendedora no contexto das organizações públicas, visto que a mesma desenvolve um significativo trabalho no que tange ao desenvolvimento da coletividade da qualidade de vida, da inovação, gerando assim mudanças sociais e econômicas de um determinado grupo social. A ação empreendedora no setor público oferece a oportunidade de reexaminar o papel do governo no que diz respeito à sua responsabilidade de garantir o acesso aos serviços. 

Referências

MANIÇOBA, R. F. Ação empreendedora: Evolução, Lacunas e Tendências. In: SEMINÁRIOS DE ADMINISTRAÇÃO, novembro., 2019. Disponível em: <https://login.semead.com.br/22semead/anais/arquivos/2528.pdf>. Acesso em: 13 abr. 22

SOUSA, J. L. et al. O Empreendedorismo no Setor Público: A Ação Empreendedora da Fundação Joaquim Nabuco. In: ENCONTRO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GOVERNANÇA, 30., 2010,Vitória/ES. Disponível em : <http://www.anpad.org.br/admin/pdf/enapg415.pdf>. Acesso em: 13 abr. 22.

VALE, G. M. V. Empreendedor: Origens, Concepções Teóricas, Dispersão e Integração. Revista de Administração Contemporânea, 2014. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1982-7849rac20141244>. Acesso em: 13 abr. 22.

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